Sustentável salvação que virou moda


Já foi sinal de roupa sem graça, tecidos que arranhavam a pele, calças que pareciam armaduras, de tão quentes. Já foi associado a preços altos, devido à dificuldade de conseguir a matéria-prima. Assim como a história da camada de ozônio e da subida dos oceanos, o estilo dito sustentável quase virou lenda urbana. Até que algumas marcas começaram a mostrar que, mesmo sendo feita de garrafa pet, a tal calça ou a camiseta orgânica podiam ser bonitas e confortáveis.
Do mar e da terra
Verdade seja dita e reconhecida: a Osklen foi a primeira a ser reconhecida como capaz de despertar desejos de consumo com ideias sustentáveis. Desde 1999, o dono, Oskar Metsavaht, é convidado a palestrar pelo mundo e foi nomeado embaixador na ONU como defensor do meio ambiente. Por produzir bolsas e sapatos de couros de peixe, pela criação do E-Fabrics, espécie de instituto pesquisador de matérias-primas têxteis, produzidas em cantões remotos do país. E o mérito maior: tudo bonito, cobiçável, moderno!
Este feito amenizou a opinião de um palestrante de um evento internacional realizado em São Paulo pela Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), nos anos 1990. Falando em nome da indústria do jeans _ uma das mais poluentes, pela quantidade de água e tingimentos que utiliza _ afirmou que, para conter a ameaça ao planeta só havia duas saídas: reduzir o consumo, comprando menos roupas. Ou lavar com menos frequência. Sugestões bizarras, partindo de um integrante de uma grande marca, a Levi’s.
Porque mesmo o jeans encontra outras formas de salvar as águas dos rios. No Japão, a grife Kapital remonta calças e jaquetas com pedaços de peças usadas. No Brasil, um grande exemplo é Isabela Capeto, que transforma as bases do estilo índigo em maravilhas bordadas, recortadas, quase obras de arte.

cessórios e sobras
Silvia Blumberg assina joias. Com pedras, metais, cristais. A maior parte destes elementos seria desprezada quase como lixo. Com caquinhos de pedras, areias, cimento, pós de madeira ou até de tijolo Silvia surpreende em brincos, pingentes, colares. Frequenta salões internacionais, ganha prêmios pelo valor em sustentabilidade e beleza das coleções.
Ter um sapato sustentável parece difícil? Pois a Ahlma, com o espírito inovador do diretor criativo André Carvalhal, convocou a marca mineira Cacete Company e lançou uma sandália feita com tiras de logos tirados dos aviamentos excedentes das duas empresas. E a Joya da Terra, logo ali, em Botafogo, apresenta alpargatas de jeans pet com palmilhas de fibra de coco.
Até a Mercatto, que completa 25 anos de mercado, original de uma fase onde a exigência ecológica era rara, recicla todo papelão do processo de produção. “Todo ele é separado, uma empresa mói e cria caixas. Os retalhos de tecido são usados por um fornecedor que faz bonequinhas de retalhos”, informa Marcus Antônio Ávila Rhamnuzia, responsável pelo Centro de Distribuição da marca.
Grupo dos 40
A melhor prova do sucesso do sustentável na moda está no grupo de 40 marcas formado pelo Sebrae, coordenado por Fabiana Melo. Quando foi lançado o edital do projeto, receberam 200 inscrições, dos quais saíram estes 40, que passaram por 15 meses de workshops, seminários, práticas financeiras. “O resultado inclui tanto o uso de mesclas de pet, algodões orgânicos, o reuso, pedras de pedreira, até os cuidados com as embalagens e valorização cultural do território onde atuam” define Fabiana. Na prática, o grupo trabalha por exemplo com Lycra biodegradável, que se decompõe em quatro anos, em lugar dos 120 da Lycra comum _ a conferir nas coleções fitness da Julia Loha _ ou a Sophos, que faz joias de marchetaria com restos de madeira do Amazonas e compostos.
Direto para o mundo
Se a Osklen abriu caminho para o mundo, e atualmente se manifesta na campanha Asap (normalmente, em inglês significa “as soon as possible”, o mais rápido possível), que virou as sustainable as possible (o mais sustentável possível), a história da Movin também tem encantos. Em 2011, formado em Administração e Marketing, Pedro Ruffer abriu a Movin no Forum de Ipanema para vender roupas de malha com tingimentos naturais e ausência de químicas nocivas. “Como era época de turismo forte no Rio de Janeiro, chamava a atenção de gringos. Alguns eram representantes ou compradores de lojas alemãs e inglesas. Acabei fechando a loja e me dedicando à exportação. Acho que me antecipei demais nestes conceitos sustentáveis no Brasil”, comenta Pedro, bem-humorado.
Seus protótipos não são confeccionados, são desenvolvidos em 3D; os papéis viram tags e cabides. Nas etiquetas, há informações sobre de onde vem o tecido, quanto a costureira ganhou; as cores são básicas, preto, branco, mescla e os preços vão de R$ 80 a R$ 150. Estas estratégias renderam à Movin a certificação do sistema B, a mesma concedida à Natura e à loja americana Patagonia.

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